Mais um Setembro pela frente, sem nada de muito certo...
Vantagem? Férias alargadas. Que estão a dar muito jeito para a conclusão da dissertação de mestrado (defendo em meados de Julho).
Ficam as saudades, já habituais nesta altura. Saudades dos meninos e dos bons momentos passados. Saudades da colega de equipa. Mais uma vez, tive sorte. Saudades do prazer de ser TF, que acaba por sair prejudicado por uma série de situações que lhe tiram o brilho, entre elas esta instabilidade. É como se fosse necessário pôr um travão no envolvimento, sob pena de custar ainda mais a despedida... Tento fazer isso, nem sempre consigo. Também, sem algum sofrimento, as coisas perdem valor. Se não fazem sofrer quando acabam, é porque não valeram o suficiente, não é?
Nunca fui muito fã, nem pouco. Sempre gostei de algumas músicas, de outras nem por isso. Uma estrela que, de facto, não me era indiferente, mas também não me dizia nada de mais.
Por isso me surpreendi quando soube a notícia, pela forma como me senti: chocada.
Sabe-se lá porquê, pensamos sempre que figuras destas são imortais... E, de facto, são. Pelo que deixam quando partem, pelas memórias que ficam em todos nós, por todas as vidas que tocaram.
Do Michael Jackson ficará sempre a memória do negro que se tornou branco de plástico. Das polémicas. Das suspeitas de pedofilia. E do mundo encantado que criou em Neverland.
E da música. A que o manterá imortal. Para sempre... ou quase!
"Muitos me perguntavam como era possível conviver diariamente com o desgosto. A resposta é simples: é um privilégio poder conhecer a humanidade no seu melhor, na Coragem, mas sobretudo, no Amor. Os médicos e as enfermeiras com quem trabalhava eram santos, porque, como ouvi, os santos não se vêem todos da mesma maneira. Lembro-me de Perez , um rapaz de 15 anos que cansado das naúseas e da dor, desistiu do tratamento de viver, o melhor que podia, os meses que lhe restavam. A mãe aceitou sem discussão a opção do seu filho. Despediu-se do emprego para gozar com ele a Vida. Tivemos um último encontro num jardim de NY, em Outubro, num daqueles dias excepcionais em que o sol abre as cortinas do Inverno. Dia apropriado para o encontro que era, simultaneamente, uma separação. Despedimo-nos com um abraço e um sorriso: até breve. Naquele momento, o tempo não teve dimensão. Mas recordo sobretudo a Jennifer, uma rapariga encantadora, amante dos golfinhos, que na roleta dos tratamentos decidiu apostar tudo num transplante que falhou. O pai, no dia do enterro, cobriu o caixão de golfinhos azuis que na pintura sorriam para ela. Na missa, a mim, seu médico e também carrasco, chamaram-me para a sua banda, e dando-me as mãos consolaram-me de um desgosto tão fundo de que só mesmo eles me poderiam içar. Durante anos, tive a sua fotografia no ecrã do meu computador, para que todos os dias me lembrasse porque trabalhava. Poucos meses depois da sua morte, os pais pediram-me ajudar para lançar uma fundação com o nome de Jennifer para ajudar na luta contra o cancro. O dinheiro dessa Fundação foi direito para o hospital onde morreu. A Humanidade no seu melhor , na Coragem, mas sobretudo, no Amor."
Nuno Lobo Antunes in Sinto Muito
Deixo esta reflexão e, ao mesmo tempo, uma sugestão de leitura. Tenciono ler assim que tenha tempo!...
A.F. (8 anos) A.F. - Vamos fazer de conta! eu - Não, A., agora não! A.F. - Vá! Tu eras velhote, eu sou humano.
A.P. (8 anos) eu - As férias foram boas? A.P. - O pipoca morreu. O meu rato. eu - Ohh... Porquê? A.P. - Tinha uma doença não sei quê e foi para o lixo. eu - Que pena!... A.P. - Agora fui buscar outro. Mas não é um fêmeo, é uma fêmea. Chama-se Rubi. eu - Foste buscar onde? A.P. - Ao criador. É um criador que faz ratos.