domingo, março 29, 2009

Perdas...




Vontade de escrever, de desabafar... Irrita-me tanto que apareça por motivos destes... Gostava de recuar uns anos no tempo e voltar a ter tempo e vontade constantes para escrever aqui, principalmente pelos bons motivos...

Isso deixa-me triste, mas, no fundo, a tristeza está cá dentro, a fermentar... E este é só mais um motivo para ela atingir um pico, nada mais...

Este final de semana tem sido muito mau mesmo, até parece que estou sempre à espera de mais "pioras"...

A A. partiu na 6ª feira e a T. também, mas soube apenas hoje. Sinto uma profunda tristeza... Para ajudar, soube de mais 2 ou 3 conhecidos que estão bastante doentes e soube que a minha gata, a Fredy, está gravemente doente, embora felizmente ainda não tenha sintomas... Enfim... Parece que o Universo está de mal comigo! Porquê?

Tenho uma vontade enorme de fugir no tempo, de avançar o relógio e fugir desta fase, mas ao mesmo tempo tenho medo do que vem, parece que as más notícias não têm fim!...

Vou escrever um pequeno texto sobre a A. e a T. e posto de seguida. Uma singela homenagem, para que se saiba que passaram por cá e que deixaram a sua marca. E que eu vou ter muitas saudades delas... :( E para que eu cumpra a minha promessa de não as esquecer. Mesmo daqui a muitos anos, quando vier reler este espaço.

Pikenatonta [1982 - 2009]



Conhecemo-nos na net, num chat. Portugalmail, se não me engano... há quanto tempo!! Passámos às cartas, trocámos algumas, durante alguns anos. Depois retomamos a via virtual, sabíamos uma da outra por MSN, mail, blogs... Enfim... Uma amizade criada e alimentada via internet, que infelizmente nunca nos levou a um encontro pessoal, apesar das intenções de ambas...

Hoje reli as cartas que ainda tenho. Encontrei conversas de adolescentes, dramas existenciais, trocas de ideias que contribuiram para aquilo que nos tornamos, as duas, com os anos.

Foi uma de umas tantas correspondentes que tive, embora das mais tardias, das mais presentes pela vida fora, das mais amigas, sem dúvida.

A T. ... E agora partiu... aos 26 anos...

Lutou muito contra uma doença grave que lhe afectou o coração: miocardiopatia dilatada.

Amante de animais, menina dos gatos, defensora das causas justas, artesã com muito talento, leitora convicta e apaixonada, escritora de longos e deliciosos posts, pequenita e tonta, snowshoee, tudo isto a define e definirá sempre.

A mim deixou-me o bichinho dos blogs. Levou-me na direcção do amor. Mudou a minha vida. Ofereceu-me a sua amizade. Lembrou-se muitas e muitas vezes. Visitou este cantinho assiduamente. Deixou sempre um comentário amigo.

Sempre fez parte deste blog. Quer porque foi o motivo do seu início, quer porque nunca deixou de o marcar com o seu contributo.

Vou sentir muita falta dos mails, das visitas virtuais, dos comentários, dos "ois" rápidos no MSN, e dos mais demorados... Vou sentir falta da amiga. Com quem sempre achei que um dia iria tomar um café para finalmente a conhecer... Se eu soubesse...

Fica o conforto de saber que um dia, há muitos meses atrás, lhe disse aquilo que de mais importante tinha a dizer. Lhe dei conhecimento de tudo o que ela mudou na minha vida e que ela poderia nem sequer ter noção. Sei que ela gostou de saber.

Se a quiserem conhecer, se quiserem saber um pouco mais sobre a T., a Pikenatonta, visitem o cantinho dela e leiam, leiam tudo. Acreditem que não se vão arrepender. E eu espero que aquele cantinho se mantenha online por muitos e muitos anos. Afinal, é um pouco dela que se mantém ao nosso alcance. [pikenatonta.blogspot.com]


Pikena:

As minhas imensas saudades... e esta pequena, mas sentida, homenagem.

Sinto uma enorme tristeza pela tua partida...

Espero que agora, nesse sítio onde estás, possas descansar dos difíceis tempos de luta por que passaste.

Nunca te esquecerei.

Babuska [1997 - 2009]




Esta notícia deixou-me sem chão...

Quando se trabalha com crianças, não se está à espera de que algo deste tipo aconteça... Não é justo, não é esperado, não é o decurso natural das coisas...

Eu, trabalhando com algumas crianças com multideficiência, vejo-o como possível em crianças que têm graves problemas respiratórios, doenças degenerativas, risco de vida constante... Agora a A. não! Nada o fazia prever, no entanto aconteceu, de repente...

A A. era uma menina apaixonante. Conheci-a no ano passado, numa das escolas onde trabalhei e ficou como uma das crianças mais marcantes. É injusto, mas é óbvio que acontece, há sempre aquelas que, por um motivo ou outro, nos marcam mais. E esta foi pela personalidade.

Depois de, em Outubro, ter mudado de escola, não tive coragem para ir visitar a sala da A., a sala que, de todas, me ficou mais no coração. Lá vivi momentos fantásticos, muitos do quais com ela e custou-me muito a quebra. Conformei-me pelo facto de que, mesmo que continuasse na mesma escola, não iria àquela sala... Mas foi difícil, apesar de, em todos os sentidos, ter sido melhor para mim. Durante meses adiei constantemente a visita, não me sentia preparada... Finalmente, algures entre Janeiro e Fevereiro, lá fui. Felizmente que fui... Não me ia perdoar se ainda não tivesse ido... Não com isto...

Nessa visita, estive com a A. de fugida, mas foi muito bom. Não me ligou muito, mas não me importei, até porque contava voltar em breve... Estava bonita, de cabelo maior, apanhado nuns totós que lhe davam muita graça. Falámos dela (eu e a educadora), de como estava bem este ano, a ir à sala de aula e tudo (no ano passado não conseguia ir, pelo comportamento desadequado). Falámos de como continuava brutinha e provocadora com todos. Mas de como estava a mostrar as competências que sempre acreditámos que tinha... Ela vai longe, dissemos... Longe...

Quando penso nela, lembro-me do olhar vivo e provocador, de quem faz uma asneira, sabe que o está a fazer e sabe que aquela pessoa à frente dela não vai gostar da ideia.

Lembro-me da resistência inicial às sessões de Terapia da Fala, 10/15 minutos era o que ela aguentava no início. Lembro-me da forma como tentava fugir da sala onde tinha terapia, reinventava N estratégias para conseguir o que queria...

Recordo os movimentos bruscos com que agarrava nos colegas, mais pequenos que ela, magoando-os quase sempre, embora por vezes com óptimas intenções (de os ajudar, na perspectiva dela). Particularmente o R., que tinha um medo terrível de andar sozinho, a quem ela puxava pelas mãos, insensivel ao medo, enquanto ele gritava: "A., pára, A.". O certo é que lhe tirou alguns medos com esta estratégia bruta! :)

Lembro-me da sua forma de falar "rude", algo rouca, e de como me chamava "Rafael", pela dificuldade em dizer o Q. E da forma como, às vezes, parecia motivada para o treino da fala e se esforçava por dizer melhor as palavras. E da maneira... original (?) como imitava os gestos, muito imperfeitos, mas com muita graça!

E da matreirice, quando à socapa se metia com os colegas, fosse com beliscões, fosse com palmadas, fosse a roubar-lhes o jogo... Só para provocar reacções.

A forma atabalhoada como reproduzia o que os adultos lhe ordenavam com frequência: "A., não abusa!"

E a maneira como se ria. E como desafiava os adultos. E as boladas que levei na piscina de bolas...

Recordo particularmente o beijo que me deu no final do ano lectivo passado, quando me vim embora, para não voltar.

Recordo... Porque agora só me resta recordar...

É injusto, é revoltante, é triste, muito triste. Uma menina tão pequenina e tão especial... Que não teve muita sorte, infelizmente... Em vários aspectos...

Enfim, a vida não é justa e eu cada vez mais me convenço disso...

Para ti...


A.:

Foste uma estrelinha que passou por mim e que me apaixonou.

Vivi contigo momentos muito especiais e nunca os poderei esquecer. As histórias que me deixaste para contar, ficarão para sempre comigo e com aqueles com quem as possa partilhar.

Espero que estejas num sítio muito bonito, mas suficientemente activo, porque é disso que tu gostas.

E quem sabe um dia nos reencontramos e pode ser que ainda te lembres de mim...

Serás, para sempre, a minha Babuska!


Beijinho da Rafael.

sexta-feira, março 06, 2009